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  • Haití: Marcha contra Monsanto e pola soberanía alimentaria

    Haití: Marcha contra Monsanto e pola soberanía alimentaria

    • 07,Xuñ 2010
    • Posted By : sicom
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    [Nota de prensa de  La Vía Campesina Internacional

    MONSANTOHAITI MONSANTOHAITI

     

    (Porto Príncipe, 7 de xuño 2010) Varios milleiros de campesiños e campesiñas de todo o país manifestáronse contra Monsanto e os seus cómplices en Hinche despois da convocatoria do Movemento de Papaye (MPP), das organizacións labregas e movementos sociais como Movemento dos Campesiños do Congreso de Papaye (MPNKP), de TK (Tèt Kole), da Coordinación Rexional das Organizacións do Sur Este (CROSE), do Movemento Reivindicativo dos campesiños de Artibonite (MOREPLA), da Plataforma haitiana de apoio por un desenvolvemento alternativo (PAPDA), Rede Nacional Haitiana pola Seguridade e a Soberanía Alimentaria (RENAHSSA), da Plataforma das organizacións campesiñas haitianas (PLANOPA), do grupo « Kaba grangou » (para acabar coa fame) xunto coa Vía Campesiña (Haití , Republica Dominicana, Brasil e Canadá) e outros países amigos como Estados Unidos, Francia e Italia , sen esquecer aos xornalistas de varios medios de comunicación nacionais e internacionais.
    O venres 4 de xuño do 2010, manifestáronse xuntos e xuntas todos e todas saíndo do centro de formación do MPP “centro Lakay” até Hinche (ao redor de 7 Km.) para esixir o respecto á soberanía alimentaria do país e en contra de Monsanto e os seus cómplices en Haití.
    O día 3 de xuño pola noite, emitiuse un documental na sala cultural da igrexa Católica en Hinche, explicando as consecuencias negativas dos produtos de Monsanto en lugares como América Latina e o apoio que recibe dita empresa multinacional por parte da Administración para o Control de Alimentos e Medicamentos de EEUU (FDA) para distribuír os seus produtos no territorio americano.
    O venres 4 de xuño, para iniciar a marcha os e as manifestantes sementaron simbólicamente millo criollo nunha granxa experimental de MPP que simboliza a determinación de consumir millo criollo a partir de sementes locais orgánicas e tamén plantaron árbores para marcar o día internacional de medio ambiente.
    Despois, ao ritmo do tambor e instrumentos de vento como o bambú, a música e os berros, os manifestantes camiñaron até Hinche con chapeus artesanais nos que se podía ler “ABAJO Monsanto” e “ABAJO Preval” e con camisetas vermellas reclamando, entre outras cousas, o dereito dos pobos á soberanía alimentaria. Na praza Charlemagne, o director executivo de MPP e membro da CCI da Vía Campesiña, D. Jean Baptiste Chavannes, leu a declaración final escrita polas organizacións labregas haitianas e movementos sociais haitianos, para logo queimar parte do millo en venenoso como xesto de rexeitamento do agasallo mortal de Monsanto ao Goberno haitiano. Despois de queimar o agasallo maldito, distribuíronse sementes criollas como millo e varios tipos de frijoles aos e as participantes.
    Os e as participantes non soamente solidarizáronse co sector campesiño, senón que tamén aproveitaron o momento para amosar a súa oposición á política do goberno de Rene García Preval (Presidente desde o 14 de maio do 2006) e Joseph Jean Max Bellerive (Primeiro ministro desde o 11 de novembro do 2009), acusándolles de ser cómplices do imperialismo ao vender o patrimonio nacional do país.

     

     

    Camponeses Marcham contra a Monsanto e pela Soberania Nacional no Haiti
    Thalles Gomes
    Enche /Haiti

    Lanbi é o termo em kreyòl para designar uma espécie de concha marítima
    muito comum no litoral haitiano e que costuma servir de alimento para
    o povo dos litorais. Mas lanbi não é somente uma concha. É também um
    instrumento de guerra. Nos tempos da colônia, os escravos haitianos
    sopravam seus lanbis ao calar da noite e o som grave que saia deles
    era o sinal para convocar as reuniões que planejariam os passos da
    independência haitiana. Foi ao som dos lanbis que se levou a cabo a
    primeira revolução vitoriosa de escravos que se tem notícia na
    história da humanidade. O ruído grave e oco do lanbi foi o prenúncio
    da libertação das Américas.

    Na última sexta-feira, 04 de Julho de 2010, o som do lambi voltou a
    ser ouvido na pequena ilha do Caribe. Na região de Papay, no
    departamento Central do Haiti, milhares de camponeses e camponesas
    marcharam ao ritmo dos lanbis. Eles vinham de todos os confins do país
    e gritavam em uníssono: “Abaixo a Monsanto. Abaixo as sementes
    transgênicas e híbridas. Viva as Sementes Nativas Crioulas!”

    A Marcha foi uma resposta à doação de 475 toneladas de milho híbrido
    que a multinacional Monsanto ofereceu ao governo do Haiti no último
    mês de maio. Esta doação está sendo encarada pelas famílias e
    movimentos camponeses como um verdadeiro presente mortal  e representa
    um “ataque muito forte à agricultura camponesa, aos camponeses e às
    camponesas, à biodiversidade, às sementes crioulas que estamos
    defendendo, ao que resta de nosso meio ambiente no Haiti”, de acordo
    com Chavannes Jean-Baptiste, coordenador do MPP (Mouvman Peyizan
    Papay) e membro da Via Campesina haitiana, responsáveis pela
    convocação e coordenação da Marcha.

    Percorrendo uma distância de dez quilômetros desde a região de Papay
    rumo ao centro da capital departamental Enche, a marcha contou com a
    presença estimada de 8.000 a 12.000 pessoas, de acordo com seus
    organizadores. Além da Via Campesina Haiti, participaram também
    diversas articulações e movimentos camponeses como o FONDAMA,
    RENAHSSA, PLANOPA, KABA GRANGOU, VETERINAIRES SANS FRONTIÈRES, FRÈRES
    DES HOMMES, DÉVELOPPEMENT ET PAIX, FONDASYON MEN KONTRE AYITI e
    ACTIONAID.

    A solidariedade internacional mostrou-se presente com lideranças
    camponesas oriundas da República Dominicana, Estados Unidos, França,
    Itália e Brasil. Os camponeses e camponesas que compõem a Via
    Campesina Brasil externaram sua “indignação e preocupação” com a
    entrada da Monsanto no Haiti, afirmando em carta pública que “não
    podemos concordar que a catástrofe de 12 de Janeiro seja utilizada
    como desculpa para abrir as portas do Haiti aos interesses e lucros de
    multinacionais delinqüentes como a Monsanto. Sob uma ilegítima e
    violenta ocupação militar levada a cabo há seis anos pelas tropas da
    MINUSTAH – vergonhosamente liderada pelo exército brasileiro – e tendo
    que lidar com os desafios da reconstrução do país, o povo do Haiti não
    pode sofrer esse novo terremoto social que a entrada de sementes
    transgênicas no país representaria.”

    Durante a Marcha, sementes de milho crioulo foram distribuídas e
    plantadas pelos camponeses de Papay para demonstrar sua firme posição
    em defesa das sementes nativas. Imbuídos dessa mesma convicção, ao
    final do ato os camponeses queimaram simbolicamente uma pequena porção
    do milho transgênico da Monsanto que começou a ser distribuído pelo
    Ministério de Agricultura do Haiti. “Temos de lutar por nossas
    sementes locais”, afirmou Chavannes enquanto o milho transgênico ardia
    no chão. “Devemos defender a nossa soberania alimentar”, concluiu.

    Os manifestantes não esconderam sua indignação com o Presidente Rene
    Preval. As atitudes do presidente haitiano após o terremoto de 12 de
    Janeiro de 2010 – que vitimou mais de 300 mil pessoas e desabrigou
    milhões de famílias – vêm sendo bastante contestadas. A anuência com a
    permanência das tropas de ocupação da MINUSTAH, a aprovação de uma Lei
    de Emergência que prorroga seu mandato por mais 18 meses e que cria
    uma Comissão Provisória para a Reconstrução do Haiti sob o comando
    geral de Bill Clinton, somadas a este acordo com a multinacional
    Monsanto, vêm transformando o nome de Rene Preval em sinônimo de
    subserviência e corrupção nos meios populares. “Estou aqui porque
    estou com raiva do Preval”, afirmou o marchante Pierre Charité,
    camponês de 61 anos que cultiva milho, banana e cana-de-açúcar no
    departamento Central do Haiti. “Ele aceitou esse milho ruim da
    Monsanto que vai matar o milho do Haiti. Eu não vou usá-lo”, asseverou
    Pierre.

    O terremoto de 12 de Janeiro derrubou casas e destruiu estradas, mas
    não abalou a força dos camponeses haitianos. O som do lanbi voltou a
    ecoar pelas montanhas da ilha.

    (fotos da marcha: www.flickr.com/thallesgomes)

     MONSANTOHAITI